Como Pode?

Como pode?


Como pode um país de famintos, liderar o mundo?


Como pode um povo que sente fome, pensar em espiritualidade? Quando, em verdade, Purusha e Prakriti – que são Espírito e Matéria – não podem existir um sem o outro. Sim, os Gêmeos universais inseparáveis. Para que haja a sublime Essência da espiritualidade, há que existir a mais perfeita e equilibrada materialidade.


Como pode?


Como podem pensar alguns, que na fome de muitos está a solução para supervivência de poucos?


Como podem trair seu povo, mantendo-o sob o desespero da fome em detrimento de seus luxos e desejos egoístas?


Como podem?


Eu não consigo compreender. É deveras difícil. Será que sou eu quem tenho coração demais?

Amar é querer o BEM; na sua forma mais singela e simples. Querer o bem-estar apenas de si mesmo e dos seus, não é Amor; é paixão. Na ignorância da confusão, esses seres que se dizem humanos caem dia a dia na degradação. Sem o saber destroem-se lentamente ao destruir a sociedade na qual vivem.


Como podem?


Para camuflar seus desequilíbrios interiores se embebedam em festas e boates, sem faltar aos próprios iates, extasiando-se nas suas paixões: bebidas, mulheres, comida farta e prazeres; fofocas, roupas, cores, brilhos e dissabores... desamores. Enquanto os pobres súditos assalariados seguem a cada contracheque os mesmos comportamentos... Copiadores; extasiam-se na felicidade infeliz de cada feriado e sexta-feira.


Como podem?


Faltam-lhes a matéria em equilíbrio por lhes sobrar o caráter corrompido. A cegueira forçada conduzida pelo medo de viver na escassez, empurram os seres para viver sob os densos véus da matéria inerte. Na razão dos Bhutas que vão aos bhutas, enquanto os Bhrâmanes vão aos bhrâmanes. Alea jacta est! O mundo está órfão?!


Como podem ver os povos definhando?


Como podem ver países inteiros morrendo de fome, desesperados?


Como podem presenciar os seus mais próximos mendigando?


Como podem ver os seus sem forças, sem energia, sem ânimo por falta de alimento mínimo para o dia a dia? Como podem ser tão perversos? Só mesmo sendo egoístas ao extremo.


Como podem?


Só mesmo sendo muito covardes!!! Só mesmo optando pela cegueira para não encarar o choque doloroso da realidade que se lhes apresenta.

Incapazes de enfrentar os mais básicos medos históricos. Incapazes de ver que fama, dinheiro e riqueza não compram a imortalidade dos prazeres na terra.


São cegos.


Cegos que só abrirão os olhos quando a “Dama da Capa Negra” chegar à sua frente. Aí sim, verão no espelho o único futuro que lhes resta: o futuro da dor, da incerteza e da cobrança cármica e bancária (na mesma razão de purusha e prakriti) para lhes sorver tudo que puder, até a última gota de seus rendimentos bilionários. De nada vai ter adiantado aquela vida cheia de prazeres e contas bancárias recheadas porque tudo lhes será tirado.


Aquilo que desequilibrado foi... reequilibrado será um dia.


Como podem?


Não se passa fome no mundo por falta de alimentos.

Ingênuos são os que assim pensam.


A terra nos dá alimentos em abundância. Sempre nos deu.


A fome existe no mundo por ganância. Uns poucos instaurando um sistema competitivo, onde se matam muitos para a sobrevivência desses mesmos poucos. Deste sistema falido, podre e fétido é que surge a FOME. Roubando a vida de muitos, poucos vivem uma vida de REI. Não importa mais nada para aqueles; só a si mesmos. Não amam nada nem ninguém, só a si mesmos vêm.


Como podem?

Enquanto uns extasiam-se em meio a bebidas, coquetéis, canapés e “panastéis” outros trazem a miséria no corpo.


A fome não vem sozinha. Para os ingênuos é apenas uma “dorzinha na barriga”.


– “Toma água menino e vai dormir que passa.”


A fome, de verdade, vem sempre acompanhada.


A fome traz a sua companheira: a baixa autoestima. Quem tem fome se sente desmotivado. Os famintos estão cheios de desesperança. Os que têm fome não têm vitaminas no corpo. A fome traz doenças e por não ser capaz de gerar um corpo são e equilibrado, inexiste a saúde. Com a fome se instaura a depressão no ser humano. Ele não se sente capaz das coisas. Ele não sente mais vontade. Ele não consegue levantar da cama. Ele, quando sai da cama, fica vagando à procura de algo que já perdeu as esperanças de encontrar: comida. O pior da fome não é a “dorzinha na barriga”, mas o pior mesmo, o que de pior a fome trás é o total DESALENTO que se instala no corpo. “Des – alento” é aquele “sem hálito”; sem vida. Quem tem fome perdeu a dignidade por se sentir incapaz de viver. Os famintos são aqueles marginalizados pela sociedade. Praticamente MORTOS por ela. Uma sociedade assassina que clama por direitos humanos. Ora, mas de que direitos “humanos” estamos falando quando, de humana, em nada, ela se aproxima?!


Quem tem fome não come hoje, não comeu ontem e não sabe se comerá amanhã. A fome traz a incerteza de ficar em pé no dia seguinte. A fome só traz uma certeza: de que amanhã seguirá sentido a sua companheira. E isso dói muito mais.

A fome, portanto, traz o início da morte para todo aquele que a sente. Quem tem fome não quer só comida. Quem tem fome precisa sim de comida, mas também de um alento, de psicólogos, de amigos, de um meio social que o reintegre ao convívio com dignidade, precisa de ARTE e de CULTURA para se sentir bem e amado. Por isso que o ódio tem por base exterminar a arte, a cultura e a educação. Porque o ódio é destrutivo e lutará sempre contra tudo aquilo que representa a construção. A mentira no lugar da verdade. A indiferença como amiga do ódio. E todos contra o amor verdadeiro.


Quem tem fome precisa de alimento físico, anímico e também espiritual. Quem tem fome precisa reaprender a ser gente através daqueles que são verdadeiros seres humanos: em corpo e essência; não apenas na forma.


Este mundo estaria há milhares de anos-luz à frente do tempo que estamos se o povo não estivesse passando fome.


Abaixo a fome!


Que o mundo tenha dias espiritualmente melhores e materialmente dignos do potencial que já vibra nele.


Paz aos eleitos de um Novo Ciclo que avança com passadas de gigante.

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Texto de autoria de

Kenio Nogueira

Escritor, poeta e autor do blog Novelas do Kurushetra.

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